ADLER, Mortimer. Como ler livros. São Paulo: É Realizações, 2010.
Como ler livros é uma leitura indispensável de Mortimer Adler (1902 - 2001), filósofo americano, escritor e professor. Proveniente de uma família judia, largou a escola aos 14 anos para trabalhar. Ingressou na Universidade de Columbia, visando a um curso para melhorar sua escrita. Ao tomar conhecimento das obras de Platão, encantou-se pela área, fato que o levou a se graduar em filosofia na mesma universidade. Vencedor de diversos prêmios, Adler também trabalhou como professor na Universidade de Columbia e na Universidade de Chicago. Pouco antes de sua morte, Adler havia se convertido ao catolicismo (WIKIPEDIA).
Estruturalmente, o livro está dividido em quatro partes: (I) as dimensões da leitura; (II) o terceiro nível de leitura: a leitura analítica; (III) como ler diversos assuntos; e (IV) os fins últimos da leitura.
Na primeira parte, o autor esclarece os objetivos da leitura, introduz o conceito dos níveis de leitura, e já aborda o primeiro nível (leitura elementar), que compreende desde a alfabetização até a etapa em que a criança atinge o estágio de letramento. Ainda nesta parte, o leitor já começa a se questionar sobre os livros que lê, pois o segundo estágio (leitura inspecional) provoca questionamentos acerca das obras, em que se deve sempre fazer uma pré-leitura, uma sondagem antes da leitura propriamente dita. Isso quer dizer que, ao escolher um título para ler, deve-se se atentar bem ao título, ler a contracapa, as orelhas, o índice (quando houver), folhear o livro e ler superficialmente prefácio, epílogo etc. Importante destacar as perguntas que se deve fazer sobre as obras: (a) qual o tema do livro?, (b) qual é a sua mensagem?, (c) as informações são verdadeiras?, e (d) o que você vai fazer com essa informação?
A segunda parte aborda o nível da leitura analítica. Para tanto, o autor explica como classificar os livros (não os códigos de armazenamento, mas os tipos de livros), além de como dialogar com o autor da obra que você está lendo. Isso inclui criticar as obras, concordar ou não com o que foi passado e como aproveitar melhor o livro. Chama atenção ainda esse livro, pois a obra destaca a metodologia de leitura de livros de história, matemática, ciências, filosofia e ciências sociais; pois essas áreas demandam uma leitura distinta.
Ao abordar as regras de leitura de romances, o autor cita a obra russa Guerra e Paz, que recebe muitas críticas acerca da quantidade de personagens, sem falar na peculiaridade dos nomes (que são russos). A dica básica, não apenas para a obra russa mencionada, é deixar a leitura fluir, sem se prender a determinados detalhes, uma vez que esse tipo de livro tem o objetivo de entretenimento, lazer, e não estudo.
Não devemos esperar ser capazes de lembrar o nome de cada personagem muitos deles são apenas pessoas de fundo, cuja função é provocar as ações dos personagens principais (ADLER, 2010, p. 227).
A última parte diz respeito à leitura sintópica, que é a leitura realizada em vários livros sobre o mesmo tema. Com isso, o jogo vira, e ao invés de você seguir o livro, de o autor tentar convencê-lo de algo, como foi visto na leitura analítica, agora você é quem decide o que é válido, qual livro é relevante, que condiz com a sua pesquisa ou área de interesse. Assim como as etapas anteriores, a leitura sintópica também apresenta fases a serem seguidas.
Se você quer ler para aprimorar sua leitura, não pode ler qualquer livro ou artigo. Você não se tornará um leitor mais capaz se tudo que lê são livros que não desafiam a sua capacidade. É preciso enfrentar livros que estão além de sua capacidade, ou, como dissemos, livros que estão acima de você. Somente os livros desse tipo vão levá-lo a ampliar sua mente (ADLER, 2010, p. 340).
Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1940 e, embora a última versão tenha completado mais de 50 anos, a leitura é fluida, atual e de fácil entendimento. É um guia prático para ser lido mais de uma vez, visto que, como o próprio autor sugere, há livros que devemos realizar mais de uma leitura. Importante destacar que, além dessas quatro partes, há ainda o apêndice, que apresenta, como sugestão, uma lista de obras clássicas, que merecem ser lidas (pelo menos diversas delas). Após a leitura dessa obra, o leitor terá uma boa base teórica para compreender a dinâmica de leitura dos mais variados tipos de livro. Com isso, é possível refletir sobre como ler livros práticos, literatura imaginativa (romances), e demais narrativas, além de poemas etc. Para fechar a obra, o autor ainda contribui com exercícios, de forma a praticar os níveis de leitura por ele bem explanado.
Como ler livros é um material valioso, que qualquer pessoa poderia (e deveria) ler, visto a contribuição que a obra traz para a vida, promovendo um melhor aproveitamento das obras, sejam elas da área técnica, científica ou literária. Para quem não é um leitor assíduo, a obra poderá ser um pouco lenta; contudo, os benefícios valerão o esforço. Já ao leitor voraz, esta obra poderá ampliar seu modo de ver algumas obras, aproveitando ainda mais cada leitura.
Diógenes Schweigert
Postado em: 31 de outubro de 2024.