Cansado de pegar livros e livros para tentar entender como a crase funciona? Confira o material a seguir, de forma clara e objetiva, com exercícios direcionados bem simples para que essas dúvidas fiquem no passado. O material está dividido em etapas para um melhor aproveitamento.
Diógenes Schweigert
Postado em: 29 de outubro de 2024.
Um dos temas que gera muitas dúvidas e, por vezes, dores de cabeça é a crase.
Esse tema cai com frequência em concursos públicos, vestibulares, entre outros processos seletivos.
Acredito que esse tópico seja adicionado a essas provas por ser um tema que as pessoas têm dificuldades quanto ao seu emprego, principalmente por não haver diferenciação na pronúncia (aqui no Brasil).
Diante dessa situação, trago esse material para ajudar você.
A crase é o processo de fusão de duas letras “A” e não o sinal gráfico acima delas. Mais à frente você entenderá melhor o que é esse processo de fusão.
O primeiro problema já começa com o nome pelo qual é conhecido: acento grave.
O erro é que, embora as regras desse tema sejam encontradas nas gramáticas no tópico acentuação, o “acento” grave é apenas um sinal gráfico (marcação), assim como o cedilha abaixo da letra C, o til (que marca a nasalização do som) ou o extinto (da língua portuguesa) trema, que dizia que a letra “U” deveria ser pronunciada.
No nosso idioma, há apenas dois acentos: o acento agudo (´) e o acento circunflexo (^). Eles são chamados de acentos, pois eles acentuam (aumentam) o som da sílaba em que se encontram.
Eis um exemplo bem fácil de perceber a diferença: secretaria (lugar) e secretária (pessoa). Percebeu a diferença?
Compreendida essa parte, vamos para mais alguns tópicos teóricos necessários para a compreensão do processo de crase.
Em língua portuguesa, a letra A pode ser considerada como artigo (aquela palavrinha que determina que alguma coisa ou pessoa é do gênero feminino, por exemplo: a casa, a menina).
Ela pode ser classificada também como preposição (apenas uma palavrinha que liga palavras – sem determinar gênero, por exemplo: passo a passo, começou a chorar).
Tem ainda outra classificação, que é o pronome, o qual substitui um termo já dito antes.
Por exemplo: Eu conheço sua tia. Eu a vi no shopping. Perceba que o “A” destacado refere-se à tia.
Quando o assunto é crase, devemos prestar mais atenção quando a letra A determina gênero e quando ela liga palavras.
Vamos ver se essa informação ficou clara? Para acessar a atividade, clique aqui.
A crase, como visto, é composta pela letra A + A. Vimos que a letra A pode indicar o gênero de uma palavra ou pode apenas juntar palavras.
Agora veremos que há verbos, aquelas palavras que indicam o que está acontecendo, que pedem as duas funções da letra A.
Veja um exemplo: O menino pediu à professora a caneta colorida. Note que o primeiro A recebeu o acento grave (ocorreu a crase, a fusão das letras As) e no segundo caso nada aconteceu.
O que acontece aqui é que o verbo PEDIR possui dois tipos de complementos: um que pede a letra A e outro que não pede.
A explicação é simples: quem pede algo, pede A alguém. Vejamos o mesmo exemplo com informações diferentes.
O menino pediu ao professor o giz de cera. Perceba que a letra A diante da pessoa permanece, mesmo quando trocamos o gênero da pessoa.
Então ficou fácil de perceber que, quando um verbo pedir dois complementos (duas respostas), a resposta que contiver a pessoa normalmente mantém o A (aquele que liga palavras).
Por que normalmente? Veja o exemplo: O menino pediu à mãe uma irmã. O pedido foi direcionado para a mãe. Esta resposta contém o A de ligação.
Ficou na dúvida de quem fica com o A de ligação? Mude a frase para o masculino. Veja só: O menino pediu ao pai um irmão.
Alguns verbos que pedem duas respostas (elas nem sempre virão juntas) são:
fazer | entregar | responder | conceder | retirar | avisar | pagar | mostrar
Tenha em mente a situação de ALGO A ALGUÉM (também funciona algo para alguém).
Confira alguns exemplos:
* A professora informou às crianças a data da festa.
(A professora informou para as crianças a data da festa.) Notem que há o para (palavra que une palavras) e o as (determinante de gênero).
* O maestro apresentou a música às musicistas.
* O guarda sugeriu às senhoras a rota alternativa.
Que tal treinar seu conhecimento? Acesse o exercício deste módulo aqui.
Nesta terceira etapa, veremos que há verbos que, independentemente do complemento que ele peça, seja algo ou alguém, é necessário, sim, inserir a preposição A diante desse objeto (palavra que sofreu a ação do verbo). Para ficar mais claro, permita-me exemplificar com outro verbo, um que exija outra preposição. Pense no verbo GOSTAR. Quem gosta, gosta DE alguma coisa ou DE alguém. Esse verbo exige um DE entre ele e seu complemento.
Eu gosto de pizza.
Eu gosto da água do mar.
Eu gosto do chocolate branco.
Note que o DE foi seguido (ou não) de um artigo, aquela palavrinha que determina o gênero da palavra (masculino ou feminino). DE+A = DA | DE+O = DO.
Quando o verbo exigir uma preposição A, ele se junta ao artigo. Logo, se houver uma palavra masculina, teremos AO; se houver uma palavra feminina, teremos À (com acento grave). Tenha em mente que a letra A com acento grave significa um alerta de que há duas letras As, uma sobreposta à outra.
Tomemos como exemplo o verbo AGRADAR. Quem agrada, agrada A alguém. Ex.: Chocolate meio amargo agrada a mim. Sorvete agrada ao garoto. Pizza agrada à menina.
Por vezes é difícil aplicar uma regra, como aquela de trocar por masculino, para saber se o verbo pede ou não uma preposição A. Um clássico exemplo seria o verbo ASSISTIR (no sentido de ver, estar presente). Quem assiste, assiste A alguma coisa. Ex.: ele assistiu AO filme.
Por que não posso usar sem esse A? No caso desse verbo em especial, ele assume outro significado. Assistir (sem a preposição A) significa que alguém tem direito ou está com a razão. Ex.: Expressar minha opinião é um direito que me assiste. Há outros significados do verbo assistir, mas isso é um outro tema, que não interfere no estudo do acento grave.
Veja a seguir alguns verbos que pedem o A em sua regência (isso significa que o A tem que estar presente, coladinho no artigo (quando houver) do complemento). Com exemplos ficará um pouco mais claro.
VERBOS REGIDOS PELA PREPOSIÇÃO A
Eu aspirava ao cargo de gerente.
Eu aspirava à promoção de gerente.
(aspirava a + a promoção)
Juquinha compareceu ao festival.
Juquinha compareceu à festa anual.
Todos desejavam concorrer ao prêmio.
Todos desejavam concorrer à eleição.
Chegamos ao destino. | Chegamos em SP.
Chegamos à praia. | Chegamos à chuvosa SP.
Entendeu? Há alguns verbos que merecem uma explicaçãozinha.
Aspirar tem o sentido de desejar, almejar, ter interesse.
Visar, neste caso aqui, tem um sentido de ter finalidade, um objetivo.
Jurema visava a um novo emprego; por isso distribuiu tantos currículos.
Responder também é um verbo, assim como assistir, que muitos desconhecem que exige a preposição A. Ex.: Ninguém atendeu AO telefone.
Preferir é outro verbo que causa muita dúvida. Quem prefere, prefere algo A outra coisa. Eu prefiro pizza A lasanha. Há quem use outra forma (que não vou citar para não confundir). Apenas lembre que este verbo está de mãos dadas com o A, tranquilo?
Nesta etapa veremos os casos em que o acento grave é facultativo. Sim, você pode escolher usar ou não esse sinal gráfico (atenção!, a crase não é acento, embora esteja localizada na gramática normativa no capítulo de acentuação).
Antes de conferirmos os casos facultativos, é importante frisar que, ao escolher crasear ou não, você deverá adotar um padrão. Pense como se fosse um estilo de vida.
Eu escolho sempre crasear ou então Eu escolho nunca crasear.
Do contrário, ficará uma salada o seu texto, pois ora você craseia, ora não.
Veja a seguir os casos em que você pode escolher sobre o uso da crase:
** ATÉ
Por ser uma palavra da mesma classe gramatical (preposição) que aquele A que indica a crase, ele pode ser usado como um substituto. Logo, como não haverá dois As para juntar e formar a crase, não há a necessidade desse sinal gráfico. Veja um exemplo:
Juquinha foi até a praia. (foi à praia)
O evento chegou até a marca de 10.000 visitantes. (chegou à marca)
Fácil? Confira então este outro caso facultativo:
** PRONOMES POSSESSIVOS
Pronomes possessivos são aquelas palavras que indicam o dono de alguma coisa: meu, minha, teu, tua, seu, sua, dele, dela, nosso, nossa, vosso, vossa (quem ainda usa vosso/vossa?), deles, delas. Agora ficou mais fácil, certo?
Vamos fazer uma retomada antes de prosseguir. Lembra que existe aquele A que determina gênero e aquele que é grudadinho no verbo? Então, mantendo isso em mente, reflita comigo. Qual a diferença entre as frases a seguir?
A minha mãe preparou um delicioso bolo de chocolate.
Minha mãe preparou um delicioso bolo de chocolate.
Respondeu corretamente que disse "apenas o A". O restante não altera em nada. A frase permaneceu com o mesmo sentido. Logo, se esse A diante da palavra MINHA não faz diferença, posso até retirá-lo da frase que não compromete a compreensão. Vejamos agora um outro exemplo:
Eu pedi a minha mãe um delicioso bolo de chocolate.
Nesta frase, a crase é necessária ou não? A resposta é... depende do estilo que você adotou.
Na teoria, colocar ou não o sinal gráfico da crase é OPTATIVO; contudo, como dito anteriormente, é importante que você adote um padrão. Já imaginou ter um amigo que nesta semana é vegetariano e semana que vem decide ser carnívoro e ficar o tempo todo nesse vai e vem? Complicado. Então minha sugestão é: ADOTE UM PADRÃO, siga-o e seja feliz! Para fechar essa etapa, apresento outra opção que você pode se decidir entre ser do time CRASE ou não.
** NOMES FEMININOS
Jurema adora jogar voleibol.
A Jurema adora jogar voleibol.
Qual a diferença entre as sentenças? No quesito sentido nenhum. Na escrita, apenas a letra A diante do nome feminino. Alguma semelhança com o caso dos pronomes possessivos? TODAS!
No entanto, é importante prestar a atenção se esse nome não é determinado (complicou!). Isso quer dizer: se não há nenhuma palavra, uma característica que diga como ela é.
A querida Jurema da secretaria da escola é minha tia.
Querida Jurema da secretaria da escola é minha tia.
Perceba que, com esses exemplos, a segunda frase ficou um pouco estranha. Concorda?
Retomando:
Você pode optar por colocar o acento grave (conforme seu estilo predeterminado) quando:
-- a palavra ATÉ substituir o A que vive de mãos dadas com o verbo;
-- aparecer um pronome possessivo;
-- diante de nomes (próprios) femininos (não determinados).
Vamos treinar? Clique aqui e revise o que aprendeu sobre a crase até o momento.
Estamos chegando ao final deste curso. Você já viu que há verbos que pedem dois complementos, bem como descobriu que há verbos que exigem a preposição A obrigatoriamente. Na etapa anterior apresentei os casos em que a crase pode ser facultativa, isto é, você opta por utilizá-la ou não, desde que você assuma essa posição sempre. Agora chegou o momento de verificar os casos obrigatórios do acento grave.
** AS HORAS
Sempre que for sinalizado algum horário e este for escrito sem alguma preposição (aquelas palavrinhas que acompanha verbos), a crase ocorrerá. Veja os exemplos para ficar mais claro:
A biblioteca inicia seu atendimento às 8 horas.
Para curiosidade, a crase existe devido à circunstância de tempo. Para compreender melhor o caso das circunstâncias, acesso o material sobre os advérbios. Veja agora outros exemplos:
Meu expediente de trabalho é das 7h30 às 12h. (atente para a forma correta de se escrever as horas: com h e não dois pontos). Note que há preposições!
de+a = da, logo não haverá a crase nessa parte porque ela somente existe quando dois As se fundem. Contudo, entre as horas haverá crase, sim! Agora cuidado ao expressar horários com a palavra ENTRE.
Meu horário de almoço é entre 12h e 13h.
Neste exemplo não há preposição nem artigo (aquela palavrinha que determina o gênero, lembra?).
** EXPRESSÕES FEMININAS QUE INDICAM LUGAR
Sempre que houver uma circunstância de local, isto é, quando um local for feminino e ele mostrar a direção, a localização, preste atenção que a crase deve aparecer. Veja os exemplos:
Chegou à porta.
Neste exemplo, a crase sinaliza que A PORTA é o local onde alguém chegou. Caso você se esqueça de colocar o acento grave, o sentido será bem diferente. Significará, portanto, que a porta chegou (você deve ter encomendado uma nova porta para sua casa). Veja outros exemplos:
À beira mar muitas pessoas caminham. (à beira mar = circunstância de lugar)
Os calçados devem permanecer à entrada.
Notem que o termo à entrada indica um local, onde os sapatos devem ficar.
Prestem atenção nos próximos exemplos, pois eles terão funções sintáticas diferentes, ou seja, ora o termo será um sujeito (aquele que pratica a ação), ora será um objeto (expressão que sofre a ação do verbo). Se a expressão não indicar uma circunstância (situação) de lugar, não haverá crase, a menos que o verbo exigir (como já vimos anteriormente).
A escada é um objeto útil em casa. (sujeito)
Juquinha comprou a escada da promoção. (objeto)
A atenção deve ser redobrada à escada sem corrimão. (circunstância de lugar)
Para verificar se o termo é sujeito, objeto ou situação de lugar, basta algumas perguntinhas:
- se o termo em dúvida responder à pergunta quem/o quê, então ele é sujeito ou objeto;
- se ele responder à pergunta onde, então é situação de lugar.
Muitas vezes, por desconhecimento, utilizamos o termo na no lugar de à.
Chegou na porta.
Na beira mar muitas pessoas caminham.
Os calçados devem permanecer na entrada.
A atenção deve ser redobrada na escada sem corrimão.
** EVITAR CONFUSÃO
Assim como no caso da porta (alguém foi até ela, ou ela que chegou), há outros dois termos que precisam de ajuda: à vista e à bala. Essas palavrinhas sem o uso da crase mudarão totalmente o sentido da mensagem. Vamos ao exemplo que fica mais fácil de compreender.
Vendemos somente à vista. (cartaz em uma loja, ou seja, não parcelam.)
Vendemos somente a vista. (significa que se vende apenas a vista [os olhos] e nenhum outro artigo.)
Ele comprou à vista. (o cliente tinha o dinheiro na mão ou comprou no cartão sem parcelar.)
Ele comprou a vista. (será que estava ficando cego e comprou outros olhos? #estranho.)
O bandido feriu à bala. (compreende-se que o bandido estava utilizando um revólver e atirou em alguém.)
O bandido feriu a bala. (o bandido pisou o doce/a guloseima. #maisestranhoainda.)
Percebam que novamente as expressões com crase sinalizam uma circunstância/uma situação, mas desta vez indicam o modo como algo foi realizado.
Como que ele comprou? (modo de pagamento).
Como que o bandido feriu? (modo como feriu).
** INDICAR MODO/MANEIRA
Pode parecer estranho esta parte não esteja inserido na anterior, sendo que ambas discutem modos e maneiras. A diferença, contudo, é que, com as palavras moda e maneira, elas podem ficar ocultas (escondidinhas), deixando os desavisados de cabelos em pé. Isso acontece porque, ao esconder essas palavrinhas, a crase aparecerá, por vezes, diante de palavras masculinas. (#agoraferrou). Confira os exemplos para não perder os cabelos!
Adoro bife à moda parmegiana.
Nunca comi frango à moda passarinho.
Seu colete foi cortado à maneira Napoleão.
Seu texto está escrito à maneira Camões.
Não estranhe os exemplos, pois eles são bem menos comuns daquilo que foi visto anteriormente.
** DETERMINAR A CASA, A DISTÂNCIA E A TERRA (origem de algo/alguém)
Quando se especifica a casa, a distância ou a terra de algo ou alguém, a crase deverá aparecer. Do contrário, nada! Com exemplos fica bem mais fácil de entender.
Ele não retornou a casa desde ontem.
Eu vou à casa da minha mãe. (lembra da palavra feminina determinada?)
Eu estudo a distância.
Estamos à distância de 5 km da universidade.
Depois de horas voando, o avião finalmente chegou a terra. (terra firme)
Voltarei nas férias à terra do tio Sam [EUA]. (região/lugar)
** CONTRAÇÕES
Assim como acontece com a fusão da letra A (artigo) com a letra A (preposição), o mesmo poderá acontecer com os pronomes AQUELE, AQUELA, AQUILO. Esta é a única situação em que a fusão das letras A que formam a crase que não ocorre com artigo. Veja os exemplos:
Juca pediu àquele jovem ajuda ontem.
Tina foi àquela loja e nada comprou.
Não devemos responder àquilo que não nos foi perguntado.
Notem que, se separássemos a preposição do pronome, oralmente não ouviríamos diferença. Logo, na escrita também não há a necessidade de separar, apenas marcar com o acento grave que ali existe uma preposição.
Espero que o tema crase esteja agora um pouco mais claro para você. Reveja as etapas anteriores sempre que desejar, refaça os exercícios quantas vezes quiser. Para exercitar o tema crase, clique aqui.
Nada melhor para se preparar para uma avaliação do que fazer simulados, resolver exercícios dirigidos, estudar com materiais de avaliações passadas. Desta forma, seguem questões de concursos e seletivos aplicados por diferentes instituições para você estudar. Bons estudos!