Na hora de escrever um texto, é muito importante fazer um planejamento (roteiro), escrever todas as ideias, e nunca pular a etapa da revisão.
Neste momento percebemos quando uma ideia não ficou clara, se alguma informação ficou dúbia, se a ordem não está invertida.
Hoje quero compartilhar com você uma regrinha que causa dúvida para algumas pessoas. Importante não as confundir, como às vezes acontece.
De acordo com Piacentini (2012), à medida que deverá ser utilizado sempre que uma ação estiver condicionada a uma proporção, ou seja, conforme a situação avança, outras ações são desencadeadas. Por exemplo:
À medida que a inflação vai subindo, a população filtra os itens de sua lista de compras e compram cada vez menos.
Já a expressão na medida em que será aplicada quando a frase apresentar o contexto de causa/consequência. Em outras palavras, a ação após "na medida em que" é devido a algo citado na oração principal (normalmente citado na frase anterior).
Sintetizando, essa expressão pode ser substituída por "uma vez que", "tendo em vista", "visto que", entre outras conjunções causais/consecutivas. Veja o exemplo:
As feiras de ciências são importantes eventos escolares, na medida em que [uma vez que] contribuem para o desenvolvimento cognitivo dos alunos.
Observe que "na medida em que" pode ser substituída por qualquer outra conjunção (já citada). Entretanto, CUIDADO, não se deve misturar a estrutura das expressões. "Na medida que" não existe, bem como "à medida em que".
FONTE: PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Não tropece na língua: lições e curiosidades do português brasileiro. Curitiba: Bonijuris, 2012.
Aqueles que desejam se dar bem em avaliações descritivas ou redações, como processos seletivos, concursos, entrevistas de emprego etc., precisam ficar atentos a algumas regrinhas.
Elas podem parecer inócuas, mas que podem mudar o sentido do que se tinha pensado. Às vezes, essas dúvidas aparecem e nem sempre lembramos da regra.
A princípio aplica-se quando se deseja informar que algo inicialmente era desse jeito. Desta forma, pode-se substituir essa expressão por “inicialmente", "no começo", "primeiramente”.
A princípio [no começo], eu estava em dúvida se iria para o litoral, mas com esse sol que abriu hoje não posso ficar em casa.
No começo, primeiramente, não havia certeza. A partir do momento em que o sol apareceu, a dúvida se foi e a decisão foi tomada. Assim, a expressão a princípio é apropriada, pois retrata algo inicial, que acabou se alterando.
Já a expressão em princípio pode ser utilizada como sinônimo de "em tese", "de modo geral". Isso significa que há uma ideia de o assunto a ser abordado é de conhecimento ou se tem como verdade, costume etc.
Em princípio [de modo geral], todas as receitas apresentam o modo de preparo.
Nesse exemplo, fica clara a ideia de que se espera um modo de preparo nas receitas, pelo menos é o esperado. Desta forma, podemos dizer que a presença do modo de preparo nas receitas é uma regra geral, de consentimento de todos.
O tema gera tantas dívidas que vários sites buscam esclarecer os que estão em dúvida, como o guia do estudante, da editora Abril, o manual de comunicação do Senado, a revista Exame, entre outros.
O cumprimento é uma forma educada de avisar a sua chegada e iniciar uma conversar. Contudo, muitas pessoas, pensando na educação, referem-se aos masculinos e aos femininos (fazendo uso do vocabulário policial) dizendo "todos e todas".
Gente, aqui precisamos lembrar dos conceitos de concordância nominal. Na língua portuguesa, a regra é simples: desde que haja uma pessoa masculina no grupo, toda a sentença concorda com o gênero masculino. Confira os exemplos a seguir.
Mãe e filha passearam juntas no parque.
A palavra juntas deve permanecer no plural por se tratar de duas pessoas (a mãe e a filha), e a concordância de gênero é feminina, pois são dois elementos femininos. Até aqui tudo certo. Veja o próximo exemplo:
Pai e filho passearam juntos no parque.
Neste caso, a palavra juntos deve permanecer no plural por se tratar de duas pessoas (o pai e o filho), e a concordância de gênero deverá ser no masculino, uma vez que são dois elementos masculinos. O problema é quando temos elementos mistos na frase, veja o exemplo a seguir:
Marido e mulher passearam juntos no parque.
Novamente a palavra juntos está no plural por ser tratar de dois elementos (marido e mulher). No entanto, por ser tratar de um elemento masculino e outro feminino, a concordância de gênero deverá ser no masculino.
Evanildo Bechara (2009, p. 545), teórico de referência da Língua Portuguesa, afirma, em sua Moderna Gramática Portuguesa, "se as palavras determinadas forem de gêneros diferentes a palavra determinante irá para o plural masculino ou concordará em gênero e número com a mais próxima".
Logo, cumprimentar um grupo com "bom-dia a todos e a todas" é desnecessário, para não falar "infração gramatical". Simplifique e siga a regra da nossa língua: bom-dia a todos (quando houver pelo menos um masculino no grupo).
Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
Bom-dia (cumprimento) é grafado com hífen. Sem o hífen teremos o caso de um substantivo (coisa) antecedido por um adjetivo (qualidade). Vou apresentar dois exemplos para ilustrar melhor:
Bom-dia para você que está nos ouvindo na melhor rádio das FMs (Neste caso, houve um cumprimento. O "bom-dia" poderia ser substituído por "olá").
Eu desejo a você um bom dia (Neste caso, foi atribuída uma qualidade, uma característica ao dia a que está se referindo). [Eu desejo a você um bom almoço.]
Em um momento de raiva, alguém poderia [espero que seja apenas da boca para fora] dizer o seguinte: Eu desejo a você um mau dia. (que seu dia seja horrível). Nesta situação ficou claro que não se trata de um cumprimento!
Entendeu?
Este tema pode ser um pouco polêmico, visto que não há um consenso acerca dessa dúvida. Muitas pessoas já postaram que as duas expressões são sinônimas, mas acredito que haja uma diferença sutil.
Ao meu ver, com relação a é utilizado quando se introduz um assunto, quando se quer trazer um tema/objeto novo ao discurso.
Com relação à economia, nota-se uma crescente elevação da classe média no mercado acionário.
Já a expressão em relação a é utilizada quando se deseja fazer um comparativo. Em outras palavras, analisa-se fatos com base em (pelo menos) dois pontos de referência.
Neste ano, houve um significativo aumento das vendas de televisores de tela plana em relação ao ano passado.
Há postagens em sites portugueses (e vários no Brasil) que afirmam que ambas expressões possuem o mesmo sentido.
Pode até ser, mas, enquanto eu não encontrar um teórico de renome que prove a igualdade, para mim serão distintas, como explanado.
Antigamente (final dos anos 1990), era comum os jovens fazerem um curso de auxiliar de escritório, em que se aprendiam diversas atividades, como preencher recibos, formulários e cheques.
Antes, porém, quero resgatar o conceito da palavra COM. Ela é definida por Houaiss e Villar (2009, p. 497) como "[...] companhia, acompanhamento, reunião [...]".
Com a tecnologia caminhando a passos largos, o cheque, embora ainda em circulação, não é mais a forma de pagamento principal. O cartão de crédito, de débito e recentemente o Pix estão liderando as transações comerciais.
Agora vamos juntar as informações. É recorrente ouvir um caixa de loja ou supermercado dizer o valor da compra errado.
Pelo que consta nas gramáticas, a forma correta de se dizer o valor de uma compra (ou qualquer outro valor monetário) que contenha centavos é fazendo o uso do E. Por exemplo: R$ 25,34 (vinte e cinco reais E trinta e quatro centavos).
Não sei de onde está vindo essa moda de dizer o valor dos centavos utilizando COM (R$25,34 - vinte e cinco reais com trinta e quatro). [nem a palavra centavos é mais pronunciada.]
Os jovens há mais tempo devem de se lembrar dos talões de cheque. Lá já vinha escrito a forma correta de se dizer os centavos de uma compra.
No campo para escrever o valor da compra, era necessário preencher o valor por extenso. Como é possível ver na imagem, escrever os centavos não era necessário, pois já estava impresso na folha do cheque "e centavos acima".
Tendo em vista que o cheque não é mais a forma de pagamento mais recorrente, em face à praticidade dos cartões e do Pix, este deve ser um dos motivos para a perda desse referente.
Para quem ficar em dúvida, consulte o site da professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini, em seu portal Língua Brasil. Lá ela explica (e confirma) a forma correta de se escrever e (dizer) os valores monetários.
A professora Piacentini é referência na Língua Portuguesa e já escreveu vários livros esclarecendo dúvidas como essa.
O gerúndio (aqueles verbos que terminam com -ando, -endo, -indo) é uma forma verbal aceitável, apenas quando a ação estiver em andamento.
O menino está correndo e a mãe está gritando com o filho.
A ação está em andamento, em curso, e não foi concluída.
O que acontece com muita frequência é uma forma de gerúndio desnecessária.
Eu vou estar enviando o arquivo para vocês.
SIMPLIFIQUE
Eu enviarei o arquivo para vocês.
Além de ficar melhor esteticamente, há uma economia de caracteres (quando na forma escrita).
Existem formas de marcar o futuro com uma palavra apenas, não é necessário fazer uso de três!
O que muito se ouve em conversas e em algumas situações mais formais é a expressão "grande maioria". Vamos analisar a palavra maioria. De acordo com o dicionário de Língua Portuguesa Houaiss, maioria significa “(1) condição do que é maior; superioridade, supremacia (2) a maior parte; o maior número”.
Então, se estamos falando de maior parte/número, qual a necessidade de dizer ainda que é grande? Logo, essa palavra (grande) se torna desnecessária nessa expressão. Seria possível dizer a pequena maioria? Nesse caso, diríamos diretamente minoria, certo?
A grande maioria dos funcionários foi a favor da festa de encerramento.
Lembre que, ao utilizar essa expressão (a maioria), o verbo deve ser conjugado no singular! Importante destacar ainda que, no mesmo dicionário, há a entrada da expressão maioria absoluta, que algumas pessoas acreditam representar a totalidade.
De acordo com Houaiss e Villar (2009, p. 1218), maioria absoluta significa apenas "que reúne no mínimo a metade dos votos mais um ou mais uma fração". Diante dessa fala, a maioria absoluta significa simplesmente que a vitória é garantida, e não que houve unanimidade.
Unânime, segundo Houaiss e Villar (2009, p. 1904), quer dizer "que está em conformidade com todos os demais (em sentimento, opinião etc.)". Isto quer dizer que, ao usar essa palavra, ela já representa a totalidade.
Então, na frase: todos foram unânimes, há uma redundância, pois todos já representa 100%, o mesmo sentido da palavra unânime. Quais seriam as possibilidades para reescrever essa frase?
Todos concordaram.
A decisão foi unânime.
Fonte: HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
A gente adquire a linguagem, isto é, aprende a falar, ouvindo as pessoas. E é nessa "tradição oral" que adquirimos alguns vícios de linguagem. Uma dela é o caso da palavra junto, que significa unido, "em companhia". Basta lembrar a perguntinha clássica que é feita quando se vai a uma loja acompanhado. "Estão juntos?" Houaiss e Villar (2009, p. 1139) dizem que junto significa "[...] em companhia de; reunido; unido [...] ao pé, ao lado, perto [...]".
Da mesma forma, a palavra com é definida por esses mesmos autores por "[...] companhia, acompanhamento, reunião [...]" (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 497). Desta forma, com não precisa nem explicar mais, já sabemos que traz a ideia de companhia.
Em face desses dois conceitos, fica claro que ambos expressam o mesmo sentido. Logo, junto com é uma redundância (o mesmo se aplica para juntamente com).
No entanto, junto a é aceitável, pois essa expressão significa "próximo".
O motorista estacionou o carro junto à parede. Ele não estacionou em companhia da parede. Ele estacionou, SIM, próximo a ela.
Então, sempre que for necessário dizer junto com, simplifique, diga apenas com.
Eu enviarei os materiais junto com os formulários de inscrição.
Assim, seu texto (ou seu discurso) ficará bem redigido, sucinto, claro e certamente ganhará uma estrelinha de um professor de português.
Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
Em comerciais (principalmente regionais), é recorrente ouvir ou ler a expressão "maiores informações". Diante dessa expressão, eu pergunto a você: qual é o tamanho da informação?
Gente, informação não tem tamanho, logo essa expressão não é válida. Se for o caso de oferecer outras informações, diga MAIS informações.
Para mais informações, acesso o site.
Maria Tereza de Queiroz Piancentini, autora de diversos livros com dúvidas respondidas de Língua Portuguesa, reforça essa explicação aqui.
Na escola, uma das habilidades durante as aulas de Língua Portuguesa é o domínio da linguagem escrita, respeitando as regras gramaticais, principalmente quando o texto é na esfera formal.
Ao longo do percurso formativo do aluno, as estruturas sintáticas textuais ensinadas vão se tornando (vamos dizer) mais complexas. Embora a nomenclatura seja importante apenas para concursos públicos e demais provas seletivas, estamos nos referindo às conjunções.
Essas palavrinhas servem para ligar, unir frases. É aqui que muita gente escorrega na hora de organizar a frase a ser dita. De acordo com Evanildo Bechara (2009, p. 321-322), mas e porém são palavras (conjunções) adversativas por excelência.
Isto significa que elas devem estar diretamente ligadas às suas unidades frasais e estabelecem relação interoracional, isto é, há uma relação interna entre as frases.
Diante disto, depreende-se que mas e porém não iniciam o período frasal, utilizando-se em seu lugar outras conjunções, pois, se elas trazem uma oposição, é necessário que se apresente primeiro a informação que será contrariada. Veja esse exemplo:
Juquinha ganhou uma bicicleta, mas não gostou.
Perceba que primeiro foi dito o que aconteceu (ganhou a bicicleta) para depois contrariar a informação (não gostou). Para mostrar a importância da construção correta da frase, veja o próximo exemplo, que é bem recorrente.
Juquinha ganhou uma bicicleta e não gostou.
A conjunção E traz o sentido de adição, o que não ocorreu nessa frase. Logo, a relação de sentido entre as duas frases não está correta.
Esse exemplo pode não trazer dúvidas, mas, quando o texto é mais longo, pode comprometer a compreensão e gerar outras interpretações.
Maria Tereza de Queiroz Piacentini apresenta diversas respostas às perguntas que a ela são direcionadas. Para conferir a explicação dela sobre esse tema, basta clicar aqui.
Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Ed. Lucerna, 2009.
A Língua Portuguesa, bem diferente de seu rótulo, não é complicada. Ouso dizer que ela é, de certa forma, até simples. Sim, não nego que há (algumas) regras complicadas.
Muitas dificuldades são apresentadas por fatores que nem sempre são culpa da gramática. Não é fala de professor de português, não, mas a leitura contribui de forma significativa para a compreensão de grande parte das regras, sem falar na aquisição vocabular/ampliação de repertório.
É necessário, no entanto, tomar muito cuidado ao formular uma sentença durante a fala (ou escrita), pois uma simples inversão pode mudar todo o sentido pretendido.
Essas expressões, dependendo do caso, podem gerar dúvidas, quando não uma confusão entre os interlocutores. No momento de uma revisão de texto, por exemplo, o revisor nem sempre conseguirá identificar pelo contexto a ideia pretendida.
Ao encontro de traz uma ideia positiva, aproxima-se do desejado, significa que deu certo a ação em questão; o item relacionado à expressão concatena, comunga do mesmo pensamento.
A nova legislação do comércio veio ao encontro dos objetivos dos comerciários.
Isso quer dizer que essa lei favoreceu os comerciários, trouxe pontos positivos à classe ou foi atendida uma reivindicação, solicitação.
O filho, ao ver o pai voltando de viagem, foi correndo ao seu encontro.
Neste exemplo, a preposição de foi substituída pelo pronome possessivo seu, mas o sentido é o mesmo (foi ao encontro dele).
Acredita-se que o menino estava com saudade e foi até o pai com alegria, pois se subentende que o desejo do filho de rever o pai foi atendido.
No entanto, ir de encontro a expressa exatamente o oposto, ele traz a ideia de afastamento, de negatividade, prejuízo, oposição.
A derrota de hoje no campo de futebol veio de encontro às nossas expectativas.
Está clara a ideia de que isso não era o esperado, ou seja, foi o oposto do que se queria, que atrapalhou algum plano etc.
O menino foi com sua bicicleta de encontro ao muro.
Imagina-se que o garoto estava talvez sem freios e colidiu (sem desejar) no muro.
Para corroborar com esse tema, cito a professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini, que também é referência na Língua Portuguesa. Em seu site, Língua Brasil, ela esclarece diversas dúvidas, assim como esta.