DESMURGET, Michel. Faça-os ler. São Paulo: Vestígio Editora, 2024.
Faça-os ler é um livro de Michel Desmurget, francês, doutor em neurociências e autor. Atualmente Desmurget trabalha na universidade de Lyon (França), embora tenha residido por quase uma década nos EUA. Sua área de atuação envolve os efeitos nocivos das telas à saúde, principalmente de crianças e adolescentes (WIKIPEDIA).
Esta obra é, de certa forma, uma resposta a seu último livro (de muito sucesso, a propósito: A fábrica de cretinos digitais), e mostra sob a luz da ciência como a leitura contribui em muitos aspectos na vida e na formação das crianças e jovens, não apenas na questão da fala, mas no que se refere ao conhecimento de mundo, habilidade de realmente saber ler, pois, de acordo com o autor, ler é compreender, não apenas decodificar o código escrito.
O livro está dividido em cinco partes, além de uma introdução e um epílogo, o qual apresenta sugestões de atividades simples, a saber: brincadeiras para a consciência fonológica e ações durante a leitura compartilhada. Capa parte é composta por dois ou três capítulos, e cada capítulo conta com um resumo do que foi abordado.
A primeira parte trabalha a questão do conflito entre leitura e telas. Pesquisas mostraram que os pais estão cientes da importância da leitura, contudo ofertam mais telas que livros. Dados mostram o declínio da leitura e os impactos negativos dessa situação. O autor apresenta, inclusive, o impacto que cada tipo de obra oferta. A leitura de romances, por exemplo, traz muito mais benefício que histórias em quadrinhos.
Já a segunda parte aborda mais a questão cerebral, pontuando que, apesar de o nosso cérebro não ter sido programado para ler, ele contém estruturas para a aprendizagem, que podem ser construídas para que a leitura seja possível. Desmurget mostra com gráficos e tabelas a aquisição de vocabulário que ocorre ao ler, bem como a aquisição da ortografia, que ocorre indiretamente. Apresenta ainda fatos relacionados aos impactos no cérebro durante a leitura de um livro em contraste a quando se assiste a um filme.
Na terceira parte são detalhados os processos de consciência fonológica e como a família pode contribuir em casa para que a criança se alfabetize melhor, porque “a criança precisa que os adultos a mergulhem em um mundo verbal ao mesmo tempo rico, abundante e estimulante” (DESMURGET, 2024, p. 193-194).
A quarta parte discorre especificamente sobre a importância do livro, preferencialmente o físico, sua contribuição para a humanidade. Faz ainda um paralelo sobre as novas mídias, que não precisam ser desprezadas totalmente (podcasts, ebooks, vídeos, por exemplo), embora sua contribuição fique aquém do livro em papel.
O último capítulo foca na inteligência, no sucesso escolar e nas habilidades socioemocionais que o hábito da leitura (não apenas a decodificação) resulta na vida de uma pessoa. “[...] quanto mais a criança lê, mais sua inteligência se expande; quanto mais sua inteligência se expande, mais a leitura se torna prazerosa; e quanto mais a leitura se torna prazerosa, mais a criança lê” (DESMURGET, 2024, p. 256).
De modo geral é uma obra de leitura tranquila, plena de conhecimento e alertas. Ao longo do livro é possível perceber a importância da leitura desde a tenra idade até o último suspiro, bem como todos os benefícios que os livros trazem e como é possível manter o lazer diante das telas sem os prejuízos tão criticados. Desmurget sabe passar sua mensagem com linguagem simples, apesar de ser sempre calcado em teorias e estudos científicos. Muitos dos dados estatísticos são franceses, porém não compromete a compreensão, visto que é fácil fazer a correlação dos dados com a nossa realidade.
Faça-os ler é um livro que todos deveriam ler, sejam professores, pais, amantes (ou não) dos livros, pois as contribuições que esta obra traz são valiosas a qualquer cidadão que almeja sucesso na vida, seja ele profissional ou não, principalmente pelo alerta que o excesso das telas provoca e como a leitura pode amenizar esses danos.
Diógenes Schweigert
Postado em: 22 de janeiro de 2025.