Fonte: FERRAREZI JÚNIOR, Celso; CARVALHO, Robson Santos de. Oralidade na educação básica: o que saber, como ensinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2018.
O livro Oralidade na Educação Básica: o que saber, como ensinar é uma obra excelente escrita por Celso Ferrarezi Júnior, em parceria com Robson Santos de Carvalho. Celso é professor da Universidade Federal de Alfenas (MG), possui graduação em Letras português/inglês, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados na área da linguística. Robson Santos de Carvalho também possui graduação em Letras, especialização em Leitura e produção de textos, mestrado e doutorado na área da linguística. Assim com Ferrarezi, trabalhou na Universidade Federal de Alfenas (MG) até seu falecimento precoce.
Esta obra já chama atenção pelo título e o conteúdo não fica muito atrás, pois aborda a importância de se trabalhar a oralidade na escola. Até a entrada das crianças no educandário, tudo se resume à oralidade, e a palavra falada é lei, mesmo já tendo uma ideia de que a linguagem escrita é importante. Hoje vivemos em uma sociedade que dá muito valor à escrita, quando na prática a palavra deveria ter igual peso, em muitos casos. Uma prova de que a palavra tinha valor enquanto a criança é ágrafa pode ser bem representada ao não cumprir com uma promessa para ela. A criança certamente o indagará com a seguinte frase: "Mas você disse". A partir do momento em que a criança passa a ser letrada, a escrita toma seu lugar soberano e apenas o papel é que passa a ter valor. Isso por vezes é perigoso, pois, como dizem, o papel aceita tudo.
Um dos tópicos abordados na obra é o respeito pelos turnos de fala. Atualmente é perceptível como os jovens não sabem esperar a sua vez para se posicionar, sempre atropelando a fala do colega, interrompendo-o, discordando dele sem lhe dar a chance de finalizar o pensamento, para então formular uma opinião sobre a fala proferida. As atividades que evidenciam a oralidade contribuem para que essa fragilidade seja corrigida, por meio da prática, de ofertar situações em que os alunos possam expor seu pensamento, seu trabalho, de modo que os colegas trabalhem a questão de ouvir atentamente o que está sendo dito, esperar seu momento certo de fazer inferências etc. Práticas como essas contribuem para que as crianças, tão empolgadas nas séries iniciais, não percam o desejo de socializar, não desenvolvam aversão, medo, pânico de falar em público. Enquanto seres ágrafos, a oralidade era a única forma de expressão. A partir do momento em que a escrita ganha bases sólidas, a oralidade vai para escanteio e a cortina da vergonha é erguida.
Parte da culpa é nossa, dos professores, que evidenciamos a arte da escrita e deixamos, muitas vezes, atividades orais de lado, seja pela necessidade de cumprir o currículo, seja por outros motivos. Já nas primeiras páginas, os autores nos golpeiam ao afirmar que "Dizemos que nossos alunos estão perdendo sua capacidade de expressão, mas não deixamos que a exercitem na escola, buscando seu silêncio como manifestação de disciplina e concordância" (FERRAREZI JÚNIOR; CARVALHO, 2018, p. 10).
Claro que, ao longo da obra, é sinalizada a diferença entre bagunça e formas de expressão, quando se deve silenciar a turma e quando oportunizar a fala. Eles ainda sugerem que se deve desenvolver "uma pedagogia da comunicação na proposta pedagógica da escola e não apenas exigir que o professor de português resolva sozinho a questão" (FERRAREZI JÚNIOR; CARVALHO, 2018, p. 10). Também é possível encontrar várias críticas, como sobre o método tradicional de ensino, no qual apenas regras gramaticais são trabalhadas (e com grande ênfase). Muitas questões são levantadas na perspectiva de que a oralidade não ganha campo nesse jogo, sendo que os autores apresentam várias propostas de atividades orais que já foram testadas e deram certo e reforçam que as "Competências comunicativas são as coisas mais complexas que o ser humano aprende ao longo da vida [e] não conseguimos construí-las com uma aula por ano. Daí a necessidade de uma reconstrução curricular, em que o trabalho com as competências comunicativas ocupe o tempo antes utilizado com aulas cansativas e inúteis de gramática normativa" (FERRAREZI JÚNIOR; CARVALHO, 2018, p. 73-74).
Infelizmente os processos seletivos ainda filtram os candidatos por meio de questões que busquem a memorização de termos técnicos da gramática normativa. Nessa perspectiva, há uma contradição de conceitos, uma vez que a aprendizagem através da prática, do seu uso efetivo é mais benéfica e eficaz do que decorar nomes estranhos que, como dizem os alunos, não vão usar em momento algum na vida (só nos processos seletivos mesmo).
Com toda essa reflexão, fica claro que é uma leitura obrigatória para todos os profissionais da educação, não apenas para os professores de língua portuguesa, uma vez que a prática da oralidade deve ser ofertada, promovida e incentivada por todos dentro da escola. Conforme os autores provocam ao longo da obra, é importante rever a nossa prática pedagógica, deixando o tradicionalismo de lado. O público que senta nas carteiras escolares de hoje não são mais os mesmos que sentaram anos atrás, portanto é mister uma mudança nas práticas pedagógicas. Como dito pelos autores, “É preciso romper com essa tradição de silêncio e devolver ao ambiente escolar o desenvolvimento das competências da oralidade” (2018, p. 23).
Diógenes Schweigert
Postado em: 20 de janeiro de 2025.